O encontro, há alguns anos impensável, entre a juventude do Leblon e os netos de caipiras como Tonico & Tinoco é o reflexo de uma onda muito maior. Populares há décadas, ao longo dos últimos dez anos os sertanejos, sobretudo sua vertente "universitária", atingiram novas plateias (no Rio, mercado historicamente resistente ao gênero, boates como Melt, Baronetti e Nuth os recebem de braços abertos), conquistaram uma posição de hegemonia fotografada na lista de CDs mais vendidos de 2009 (ignorando-se os religiosos, seis dos dez mais são sertanejos), alguns de seus representantes chegaram a fazer 200 shows em 2009 para multidões de até cem mil pessoas, e fincaram sua bandeira no mercado digital (Victor & Leo, atualmente a dupla mais bem-sucedida, tem a música mais vendida para celular de 2009, o maior número de downloads do ano e um aplicativo para iPhone que foi o mais baixado no país por duas semanas).
- O sertanejo é hoje a grande música realmente popular brasileira - afirmou Alexandre Schiavo, diretor-geral da Sony, ao avaliar a lista de CDs e DVDs mais vendidos de 2009.
Artistas e empresários apontam causas do crescimento. Ações de marketing à parte, todos creditam em alguma medida às mudanças estéticas pelas quais a música passou. Apesar de, para detratores, o estilo não ter evoluído nas últimas décadas, não é difícil perceber diferenças entre as modas de viola de Tonico & Tinoco e as músicas das gerações dos anos 1980 (Chitãozinho & Xororó), 1990 (Zezé Di Camargo & Luciano) e 2000 (Victor & Leo).
" O sertanejo é hoje a grande música realmente popular brasileira "
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.- Os processos de fusão entre o estilo e novas referências de cada artista geraram uma mudança dos boleros e guarânias dos anos 1980, passando pelas baladas lentas e chamamés dos anos 1990, até chegar ao pop e folk dos anos 2000 - descreve Victor Chaves, metade da dupla Victor & Leo e maior arrecadador de direitos autorais no Brasil em 2009.
Euler Coelho - empresário de João Bosco & Vinicius e autor do sucesso "Chora, me liga", a música brasileira mais tocada nas rádios em 2009 - também aponta a aproximação com a linguagem universal do pop como fonte do apelo às novas plateias:
- A música se tornou mais jovem, ganhou uma batida mais animada, mais pop e rock - defende. - E não é mais tão chorada, triste.
César Menotti, da dupla com Fabiano (outra das mais populares do país), lembra que a "internacionalização" do sertanejo começou já na década de 1980, mas ganhou outros contornos a partir de 2000.
- A geração de Chitãozinho & Xororó começou a trabalhar com orquestras, naipes de sopros, teclados, megabandas no palco... O sonho de qualquer dupla era ir para São Paulo e fazer um disco nesses moldes. Fizemos um CD assim, em 2004, mas não aconteceu - conta, capturando algo dessa mudança estética do sertanejo. - Quando passamos a tocar mais simples, com levada mais pop, estouramos.
A trajetória de César Menotti & Fabiano, aliás, é ilustrativa do caminho traçado por essa geração de artistas e até das causas de seu crescimento - a importância da democratização da tecnologia digital é uma constante em suas histórias. A dupla teve um show numa casa noturna de Belo Horizonte gravado de forma amadora. Em pouco tempo, sem nenhum trabalho de divulgação, aquele CD foi passando de mão em mão, em cópias informais.
- A casa era frequentada por universitários que não moravam em Belo Horizonte. Eles levaram o CD para suas cidades, ampliando nosso público. A pirataria é um problema, mas não posso negar que também é um canal de divulgação rápido - diz Menotti.
Apenas para citar mais dois exemplos, João Bosco & Vinicius e Luan Santana (artista que, aos 19 anos, desponta com força no mercado) também tiveram gravações amadoras "piratas" na gênese de seu sucesso:
- Com 14 anos, fiz uma gravação simples, com dois violões, de uma música, "Falando sério" - lembra Santana. - Ela foi se espalhando, a galera começou a ouvir nos carros, fizeram um clipe no YouTube, e a rádio me procurou pedindo uma gravação mais profissional, para tocar. Sou a favor de que baixem música, nos ajuda a vender shows e discos. Só não admito que baixem para comercializar.
O empresário de João Bosco & Vinicius resume:
- Se não fosse a internet, nosso sucesso demoraria 50 anos para acontecer, e não cinco.
Fonte: O Globo
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