Texto Escrito e Postado por Marcus Vinícius no Blognejo.
Victor & Leo sempre tiveram uma necessidade muito grande de explicar a própria música. Sofrem, desde que estouraram para o Brasil, com a rotulação desenfreada do trabalho que executam. Por diversas vezes soltaram notas e emitiram declarações à imprensa sempre repudiando qualquer tipo de termo que atribuíssem ao que eles cantam e tocam. Já foram chamados de universitários porque estouraram praticamente para o mesmo público e surgiram para o Brasil na mesma época que as duplas que efetivamente faziam parte desse extinto sub-segmento do gênero sertanejo.
Em outras ocasiões, já foram chamados até de não-sertanejos, apenas porque procuram fazer um trabalho que se diferencia muito do que habitualmente se vê nesse estilo musical. Como se o gênero sertanejo fosse uma questão matemática, onde “x + y = música sertaneja” e a dupla Victor & Leo não fosse nem x nem y, mas um terceiro elemento que nunca tinha sido incluído nessa equação. Mas entre as atitudes eventualmente tomadas pela dupla com o intuito de explicar o tipo de música que eles criaram e executam, este documentário é, sem dúvida, a mais inteligente de todas.
O documentário “A história” não é, ao contrário do que muitos provavelmente estão pensando, a história dos dois e o velho dramalhão mexicano do “sofri muito pra chegar onde eu cheguei”, até porque eles sempre fizeram questão de ressaltar que, antes do estouro nacional, viviam bem cantando na noite e com base no que se propunham a fazer. A grande sacada deste documentário é justamente evitar abordar uma dramaticidade que não existiu e se focar apenas na dupla Victor & Leo enquanto profissionais da música. Tanto que não há a participação de nenhum membro da família ou amigo pessoal que não tenha tido algum tipo de ligação direta com o lado profissional dos dois.
Para começar, o filme não tem narração, o que possivelmente elevaria o tom melodramático. É tudo pautado apenas pelos depoimentos de várias pessoas, unidos a uma trilha sonora impecável, composta não apenas de canções da dupla Victor & Leo. Observa-se nitidamente no filme uma divisão em 3 partes: história da música sertaneja até o surgimento da dupla para o grande público, características da dupla e histórias da carreira, e o processo de criação e gravação do disco “Boa sorte pra você”.
Só a primeira parte já transforma este documentário num item indispensável na prateleira de qualquer fã de música sertaneja que se preze. É genial a sequência inicial com a entrada no haras da família em câmera lenta e a alternância de músicas por ordem cronológica com a tela ficando colorida na medida em que as músicas vão ficando mais modernas. É de arrepiar o pêlo da nuca o começo do documentário com os versos do clássico “Rei do Café”, nas vozes da dupla Liu & Léu. Na sequência, logo após a abertura, a história da música sertaneja vai sendo contada com uma profundidade bem maior do que nos acostumamos a ver por aí.
A partir dos depoimentos do maior jornalista “caipira” do Brasil (José Hamilton Ribeiro) e de artistas como Sérgio Reis, Renato Teixeira, Milionário & José Rico, Chitãozinho & Xororó, Leonardo e Bruno & Marrone, são apontadas algumas épocas cruciais para o desenvolvimento do segmento, colocando justamente alguns destes artistas enumerados como protagonistas destas referidas épocas. Tudo contado na ordem cronológica dos fatos. Tudo bem que pouco ou nenhum destaque foi dado a duplas como Tonico & Tinoco nas fases iniciais e Zezé di Camargo & Luciano numa época mais recente, mas o fato é que toda a cronologia do gênero foi respeitada.
Logo depois, também com base em depoimentos, desta vez de artistas e profissionais mais familiarizados com o trabalho da dupla Victor & Leo e de amigos, a dupla é resenhada. Excelente o destaque dado ao Victor instrumentista. Algumas cenas dele gravando o violão das suas músicas são sensacionais. O cara toca demais. Fato. Logo depois, na terceira parte do documentário, considerações sobre o processo de gravação do disco mais recente.
Fica claro desde o início que o objetivo do documentário é explicar de forma definitiva o tipo de trabalho que a dupla desenvolve e mostrar que eles têm sim uma origem definida e uma raiz consolidada. Mas devem parar por aí. Como eu bem salientei, essa foi a atitude mais inteligente já tomada por eles com o intuito de, mais uma vez, tentar explicar o som deles. Não precisa agora ficar com a mesma ladainha de sempre de “não gostamos que nos rotulem”, “nós fazemos um som assim e assado”. Esse documentário é totalmente didático e cumpre com excelência essa função de explicar tudo isso. Qualquer declaração sobre esse assunto que possa ser dada de agora em diante vai soar como repetição desnecessária.
O documentário “A História” não só faz jus ao talento incomparável e originalidade da dupla Victor & Leo, como também responde à eterna pergunta quanto ao gênero musical que eles seguem e exalta a música sertaneja pela sua história, colocando a dupla no devido lugar que merecem nessa história. Claro que há alguns exageros, como o Renato Teixeira dizendo que Victor & Leo são hoje o que foram Chitãozinho & Xororó há 30 anos. Ainda é cedo para dizer coisas desse tipo. Mas se é pra exaltá-los pelos grandes artistas que são – sertanejos sim, mas ainda assim com a própria identidade e sonoridade – este filme é perfeito. Não convém dar uma nota como costumo fazer, afinal não se trata de um DVD de show. Mas se eu o fizesse, nem precisaria justificar o tamanho da nota 10 que eles ganhariam.
Fonte:Blognejo
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